Evangelho de Domingo de Ramos

Evangelho do Domingo de Ramos (Lc 22,14-23,56)

Neste último domingo da Quaresma, o Evangelho narra as últimas horas de Jesus, desde a Última Ceia, com os Apóstolos, até à morte na Cruz, passando por toda a Sua Paixão, de agonia e sofrimento.

Somos levados a acompanhar o Senhor, neste percurso voluntário de entrega da Sua vida, por amor a toda a humanidade, até à Sua morte, suspenso na Cruz. Para os que ainda não encontraram Jesus Ressuscitado tudo acabou aqui, neste madeiro. Foi um projeto fracassado, uma utopia de um homem bom e bem-intencionado, que não resistiu à sua morte, como tantos outros ideais que não passaram disso mesmo. No entanto, para os cristãos, esta Cruz é o princípio! O início de um tempo novo, marcado pela certeza na Ressurreição e do nascimento do homem novo, com a condição de filho adotivo de Deus, pela fé em Jesus Cristo, Seu Filho unigénito, que entre nós se fez irmão na carne, e nos redimiu pelo sacrifício da Cruz.

A contemplação da Cruz, com frequência nos leva a reviver todo este Mistério da vida de Jesus, desde o Seu nascimento no presépio de Belém.

Nesse olhar retrospetivo, é interessante notar que ao longo da Sua vida, até à Sua morte na Cruz, a madeira, que já foi árvore frondosa ou arbusto rasteiro, sempre esteve presente de algum modo. No nascimento, foi deitado numa manjedoura, que poderia ser de pedra ou argila, mas, que segundo a tradição, seria de madeira. Já desde o século sétimo se refere a existência de uma relíquia, um pedaço de madeira, que faria parte desta manjedoura e que se encontrava na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e que em 2019 foi oferecida pelo Papa Francisco à Igreja de Santa Catarina, em Belém.

Depois, apesar de termos pouca informação anterior ao início da Sua vida pública, o Evangelho diz-nos que Jesus terá sido como S. José, seu pai legal, também carpinteiro (cf. Mc 6, 3), isto é, um artesão que trabalhava a madeira.

Não deixa de ser interessante verificar este paralelo da ciência e sabedoria de Jesus, enquanto carpinteiro, por um lado, para construir coisas belas e úteis a partir de madeira originalmente tosca, que é aplainada e trabalhada como só o Mestre sabe, e por outro com aquilo que faz connosco, também. Nos que se deixam aperfeiçoar por Jesus, que vivem segundo a Sua vontade, também Ele faz maravilhas, ainda que sejam madeira com muitos nós e imperfeições. Para Jesus, não há tronco que não sirva e que não se possa transformar em objeto nobre, de belo acabamento.

Jesus partiu para o Céu, mas deixou-nos a Sua Igreja assistida pelo Espírito Santo, que pode ser comparada a uma carpintaria, onde não faltam bons operários e todas as ferramentas apropriadas para continuar a Sua obra: a Sua Palavra e os Sacramentos.

Saibamos todos deixar-nos transformar por estes instrumentos do Seu amor, para que o nosso coração se vá tornando como arca bela, sem defeito, digna da presença de Deus, para que não tenha sido em vão o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, no madeiro da Cruz.

 

Para ajudar a contemplar o Mistério da morte e Ressurreição de Jesus, ao longo da Semana Santa, convidamos a meditar a Paixão do Senhor, com a ajuda do poema “O Servo Sofredor” do Sr. Pe. Manuel, e da pintura “Cristo na Cruz” de Diego Vélazquez. Esta pintura apresenta a crucificação de uma forma despojada de elementos que distraiam o observador, concentrando-se apenas em Jesus. O Senhor está envolvido na escuridão dos pecados da humanidade, realçando a luz que d´Ele emana, símbolo da Sua divindade e futura Ressurreição.

 

“Cristo na Cruz”, de Diego Vélazquez

 

O Servo Sofredor

Jesus,
O mais belo dos filhos dos homens,
perdeu toda a graça e encanto.
Jesus,
que atraía a si as multidões,
sente-se agora abandonado,
até dos seus maiores amigos.
Desprezado,
considerado como um verme
e não um homem!
Todos desviam d´Ele o olhar!
Experimentou o sofrimento,
até ficar reduzido à condição
de verdadeiro farrapo humano.
Jesus,
O Homem cheio de energia e vigor,
transformou-Se no Homem das dores!
Tomou sobre Si,
as angústias, os males e os pecados,
de toda a Humanidade.
Jesus,
que não havia cometido iniquidade alguma,

 

carregou sobre Si,
a iniquidade de todos nós
e foi tratado,
como se fora a escória da Humanidade.
Foi maltratado e não abriu a boca…
Foi condenado,
sem que ninguém defendesse a Sua causa.
Jesus,
que passara a vida a fazer o bem,
foi igualado na morte aos malfeitores.
Jesus,
O Justo,
sendo de condição divina,
assumiu a condição de servo.
Ele próprio,
entregou livremente a Sua vida,
para justificação de muitos.
Fez-se obediente até à morte
e morte de cruz.
Foi nas Suas chagas que fomos curados!

(Com base em Is. 53 e Fil. 2)

 

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